10 min | 27/01/2023 | Matéria
Novas tecnologias impulsionadas para melhorar o mercado de celulose
A tecnologia tem desempenhado um grande papel no mercado de celulose à medida que surgem novos desafios e demandas por inovações em sua cadeia produtiva.
Com objetivo de manter à frente da concorrência, incrementando sua produtividade, gerando ganhos operacionais, construindo um ambiente inclusivo e sustentável, as empresas desse setor têm impulsionado inovações tecnológicas constantes atualmente.
Um dos grandes desafios tecnológicos do mercado de celulose é encontrar maneiras de melhorar a conectividade em suas florestas, abrindo espaço para possibilidade de utilização de outras inovações tecnológicas antes disponíveis apenas para ambientes fabris e operações mais controladas.
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Para entender melhor sobre o mercado de celulose, e seus desafios, Marcelo Chiabai, Consultor Sênior de desenvolvimento de Mercados, responsável por inovação e novos negócios para o mercado de celulose da Sotreq Florestal, explica tudo. Há uma segmentação importante nas cadeias produtivas de celulose que deve ser realizada e compreendida entre a operação industrial e a operação florestal.
A operação industrial, que é basicamente a planta fabril, recebe madeira e insumos químicos para, através de diversos processos, transformá-los em celulose e seus subprodutos.
Para suprir a operação industrial com seu principal insumo, que é a madeira, uma operação conhecida como florestal - ou suprimento de madeira – se torna responsável por tudo que vem antes da chegada das toras de madeira à operação industrial. Suas ações se iniciam nos viveiros de mudas, passando pelo plantio e manutenção das florestas, chegando à colheita e entrega da madeira na planta fabril.
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E Marcelo explica porque essa separação é muito importante e ela é o cerne dos desafios em tecnologia enfrentados no mercado:
"A operação industrial como ambiente fabril e extremamente controlado é robusta e consolidada quanto às tecnologias embarcadas, gerenciamento de informações e inteligência de dados. Quando se olha para a operação florestal, com um ambiente de característica agrícola e de localizações remotas, a realidade é diferente e ainda um pouco longe até do que observamos no agrícola para produção de alimentos", diz Marcelo.
De acordo com o consultor, o ambiente de cultivo de florestas plantadas ainda é um ambiente rudimentar na sua maioria no Brasil. Não por falta de visão ou de desejo das empresas que atuam no mercado de celulose, mas por dificuldades principalmente estruturais locais. Essa condição, torna ainda maior o desafio tecnológico de replicar soluções industriais e de outros mercados em operações florestais.
Ele afirma que existe, hoje, um movimento acontecendo neste sentido, mas que as soluções estão ainda em um momento de adequação para as demandas particulares da operação florestal.
Voltando para os desafios tecnológicos, a principal dificuldade no segmento de suprimento de madeira é a conectividade.
Por estar em áreas agrícolas de grandes extensões e, normalmente, longe dos grandes centros, há uma dificuldade estrutural de conectividade. Esse desafio se acentua com a característica natural das florestas, de serem barreiras físicas à transmissão de dados, não permitindo fluidez para trafegar dados e transmitir informação dentro da floresta.
“As dificuldades estruturais de conectividade nas operações florestais, no mercado de celulose, atualmente, chegam a ser até um pouco antagônicas quando se fala de algumas etapas das operações, como a colheita.
"A colheita de madeira para celulose utiliza equipamentos com tecnologia de ponta elevadíssima em sua grande maioria. Porém, diferente de países com infraestrutura mais desenvolvida onde esses produtos são fabricados, continuamos com desafios para usufruir e transformar toda essa tecnologia embarcada em mais ganhos operacionais, sociais, ambientais e de governança", pondera.
Os produtos utilizados na colheita de madeira para produção de celulose hoje são, majoritariamente, de tecnologias escandinavas e do sistema de colheita cut to lenght.
São máquinas que vêm de países como Finlândia, Suécia e Noruega e que tem uma alta tecnologia embarcada, mas a dificuldade de extrair essas informações e trafegar com elas em um tempo rápido, ou muito próximo de on time, para a tomada de ações no momento das ocorrências, é um outro dos grandes desafios em tecnologia no mercado de celulose, na operação florestal.
No ramo florestal, hoje, se fala na possibilidade de uma operação remota impulsionada por demandas relacionadas à inclusão de pessoas com necessidades de locomoção (PCD), operações onde a segurança dos operadores esteja em risco e possíveis ganhos de eficiência operacional com centrais de operação.
Em comparação com outras indústrias, como é o caso da mineração, onde operações autônomas já são uma realidade, existem barreiras de conectividade e de viabilidade econômica ainda a serem superadas, mas este é um debate em evidência e uma tendência tecnológica que em breve encontrará suas soluções ideais para as operações florestais.
Em termos de tendências de tecnologia para o mercado de celulose para o futuro, há previsão de altos investimentos daqui para frente.
"Quando se fala nas grandes cifras de investimento para os próximos anos, os projetos florestais estão tendo magnitude e protagonismo do mercado de forma geral. E eu vejo que a tecnologia vai ser impulsionada porque temos três grandes desafios do mercado de celulose em sua operação florestal: falta de mão de obra, escassez de terra e as demandas por mais acessibilidade", afirma Marcelo.
Ele explica que, na primeira questão, tem sido crítico encontrar mão de obra qualificada e reverter a situação, em um momento de grande expansão e novos projetos.
Tecnologias podem ser uma saída para uma redução da dependência de mão-de-obra, automatizando operações ou incrementando produtividade, gerando menores demandas de mão de obra e quantidade de equipamentos, para as mesmas demandas operacionais.
Outro ponto que vai impulsionar a tecnologia no mercado de celulose é a escassez de terras e o incremento dos custos logísticos.
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Quanto à disponibilidade de terras, observa-se, nos últimos anos, uma priorização quanto a destinação das terras mais produtivas para a produção de alimentos, gerando uma escassez e uma elevação dos custos para ampliação e novos projetos no mercado de celulose.
A elevação dos custos de logística tem impulsionado a busca por terras mais próximas às zonas portuárias, visto que a celulose se trata de uma commodity majoritariamente dedicada à exportação. A combinação desses dois elementos têm gerado uma movimentação para colheitas em áreas antes não utilizadas para plantio de árvores, devido aos seus desafios na operação florestal.
"Sabemos que estes terrenos, hoje, disponíveis para ampliação de plantio de florestas plantadas mais próximos às zonas portuárias e sem disputa com a produção de alimentos, basicamente, são de maioria montanhosos e declivosos, o que torna a colheita mais desafiadora e perigosa.
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"Neste ambiente, entendemos que a operação remota pode ser uma solução muito interessante para eliminar o risco humano e utilizar plenamente a área disponível. Desta forma, a tecnologia vem para ajudar com a possibilidade de plantar e colher com segurança em áreas que estavam descartadas para operação florestal", diz.
O terceiro ponto, não menos importante atualmente, é a inclusão de pessoas com deficiência.
"Entendemos que existem ainda algumas limitações de engenharia e tempo de desenvolvimento para os fabricantes estarem preparados para oferecer acessibilidade nos equipamentos, como rampas, elevadores e alternativas para o manuseio de máquinas atualmente."
A tendência é que este movimento ganhe cada vez mais força nos próximos anos e, uma solução com viabilidade econômica e operacional, que não gere necessidade de novos desenvolvimentos nos equipamentos, tende a se consolidar.
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