Lugar de mulher é onde ela quiser. Inclusive à frente de máquinas pesadas

9 min | 21/01/2021 | Matéria

Lugar de mulher é onde ela quiser. Inclusive à frente de máquinas pesadas

Carla Vitória realizou o sonho de operar equipamentos como retroescavadeiras e conquistar seu espaço em um ambiente predominantemente masculino. Além de amar seu trabalho, ela também é apaixonada pela Cat

A expressão empoderamento feminino veio para ficar. E ganha mais força a cada dia. Carla Vitória de Araújo Marques é um exemplo sobre como as mulheres podem conquistar seu espaço em ambientes predominantemente masculinos. Aliando competência, dedicação e paixão pelo trabalho, ela construiu uma sólida carreira como operadora de máquinas pesadas na cidade de Seropédica, no Rio de Janeiro.

Atualmente, quando não está operando uma escavadeira, Carla Vitória atua como influenciadora digital. Em sua página no Instagram (@carlarjvitoria) é possível acompanhar sua atuação profissional, além de detalhes da vida pessoal. A carioca também tem um canal do Youtube (Carla Vitória Operadora). “Vejo tantas pessoas na internet mostrando seu trabalho, sendo exemplo. Pensei que seria legal mostrar um pouco do meu trabalho principalmente para incentivar outras mulheres”, conta.

A paixão por máquinas pesadas vem da família. “O bisavô da minha filha – Vitória, hoje com 12 anos tinha uma empresa de terraplenagem. Eu ia de vez em quando lá e treinava na escavadeira. Certa vez ele alugou a escavadeira para um curso, e eu fui com o motorista levar a máquina até o local das aulas. Em uma conversa informal, o instrutor me perguntou se eu tinha formação de operador de máquinas, e eu respondi que não, mas sabia operar. Então, ele me deu o curso gratuito. Fiz no ano de 2010. Também fiz curso técnico de segurança do trabalho”, lembra.

Com o currículo de operadora de escavadeira e técnica de segurança do trabalho (TST), Carla sonhava entrar no mercado de trabalho. “Algum tempo depois, uma empresa veio para o meu bairro fazer obras de saneamento básico e asfalto. Procurei o encarregado e entreguei meu currículo. Não precisavam de TST, mas ele me deixou fazer um teste na escavadeira e viu que eu sabia operar. Assim, me deixou dar uns pegas na máquina. E eu ia todos os dias. Até almoçava com eles. O encarregado viu que eu queria muito aquilo e explicou que escavadeira não dava para melhor, porque ela só abria a obra e depois ia para outro lugar, e os operadores ficavam em alojamentos. Então, me perguntou se eu queria ficar na retroescavadeira. Respondi que não sabia operar e eles me ensinaram. Fiquei um mês treinando na retro; até assinaram minha carteira como operadora de máquinas”, conta.

Carla Vitória ficou nesse emprego por dois anos, o tempo de duração da obra na cidade. Nesse período, operou retroescavadeira, trator e rolo compactador. Devido à sua atuação pioneira, ficou bastante conhecida como operadora de máquinas pesadas e trabalho nunca faltou. Desse primeiro contato profissional nasceu também outra paixão. “Na primeira empresa que trabalhei só tinha máquina Cat e me sentia segura trabalhando nos equipamentos da marca. Tudo o que a Caterpillar faz é de qualidade, amo os produtos. E isso vale tanto para as máquinas quanto para os acessórios pessoais”, revela ela, que demonstra sua relação de carinho e admiração com a Cat ao postar fotos e vídeos operando suas máquinas e vestindo camisetas e boné Cat.

Claro que nem tudo são flores na rotina do trabalho em uma obra, como relata Carla. “Acredito que um dos maiores desafios na profissão é encarar o machismo, que infelizmente ainda existe em alguns casos. Também tenho que confessar outra dificuldade, mas essa é totalmente minha. Em algumas máquinas, tenho que me esticar toda porque o meu tamanho não dá (risos)”, conta a carioca de 29 anos e 1,59 metro de altura.

O bom humor de Carla Vitória não a impede de narrar outro fato que revela o quanto a mulher ainda sofre preconceito em determinados ambientes profissionais nos quais a predominância é de homens. “Eu era terceirizada em uma empresa muito grande e para ir a alguns pátios, banheiros e para o refeitório era uma distância muito grande. Por conta disso, peguei carona com um supervisor. E foram só duas vezes, até me ligarem para proibir de pegar carona, porque já estavam falando que eu estava saindo com ele.

Mas, apesar de qualquer dificuldade, Carla Vitória segue sua trajetória como vencedora na profissão que escolheu. Trabalha com vontade de seguir crescendo como operadora e inspirando outras mulheres a perseguir seus sonhos. “Se pudesse dar um conselho, seria: ter força de vontade, pensar positivo e não fazer corpo mole. Nunca fale que não sabe fazer e jamais desista. Diga: ‘Eu não sei, mas posso aprender e tenho facilidade em aprender’. Parece difícil, mas não é. E nunca pare, sempre que puder aprenda algo diferente.

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